Em The Eruv of Jerusalem (1996), Calle faz um estudo sobre o público e o privado a partir do Shabbat e dos habitantes de Jerusalem. Eruv é o descanso sagrado é obrigatório no Shabbat, de acordo com a lei Judaica. Trabalhar é proibido nesse dia, assim como carregar objeto privados para fora do lar. Entretanto, um espaço cercado por muros e portões é considerado um espaço privado, mesmo que seja uma cidade, o que permite o trânsito nesta com objetos pessoais e privados e tornaria o espaço publico um espaço privado. Dentro dessas informações, Calle pede que habitantes de Jerusalém – Israelitas e Palestinos – a levem a um espaço público que alcançam uma dimensão privada para cada um deles. Neste trabalho, Sophie não apenas conhece Jerusalém a partir da subjetividade do outro, mas trabalha com a questão no contexto geopolítico de Jerusalém.
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| The Eruv of Jerusalem, 1996. |
Esse estudo sobre relações privadas dos indivíduos com espaços públicos modificadas por políticas externas está presente também em Detachment (1996). O jogo proposto nesse trabalho foi realizar visitas a símbolos da Alemanha Oriental em Berlim, quando Sophie pede que transeuntes descrevam os monumentos que estavam nesses locais que então já eram vazios. Calle fotografa esses locais e traz a eles o significado particular do entrevistado, em contrapartida ao significado inicial da imagem que existe na memória destes, expondo os trabalhos com as histórias e publicando livros, como é de sua tradição. O local público novamente ganha um significado subjetivo, ao qual Sophie traz maior atenção e importância. Os monumentos foram removidos após a queda do Muro de Berlim, por motivações políticas, mas o envolvimento das pessoas com estes símbolos era pessoal, queira fosse um envolvimento positivo ou negativo. Sophie busca resgatar a relação que os habitantes têm com essa cidade e com suas mudanças.
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| Detachment, 1996. |
Um terceiro trabalho que segue premissa de investigar a relação dos indivíduos com os espaços públicos é The Bronx (1980). A Fashion Moda Gallery, de Nova Iorque, convida Sophie Calle para desenvolver um projeto que se conecte com o distrito onde fica a galeria (Bronx). Para a artista, algo que se conecte com o distrito deve partir das pessoas que vivem lá e, por isso, ela pede que transeuntes a levem para um ponto da escolha deles enquanto ela os escuta, fotografa esses pontos e toma notas de suas histórias. Uma noite antes da exposição, a galeria foi invadida e as obras sofreram intervenções. As pixações por cima das obras, feitas provavelmente pelos moradores da região, estabelecem também uma conexão do trabalho com o distrito, pois são uma forma de cultivar e identificar o local com o distrito e seus moradores – não é uma questão qualitativa ou um olhar do estrangeiro sobre o local, mas uma escolha feita por quem adentrou a galeria e fez as intervenções.
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| The Bronx, 1980 |
Em “Restauração da Cidade Subjetiva”, Félix Guatarri fala sobre o turista que viaja, mas não deriva, realizando viagens imóveis. O turista é aquele que anda em tour, em círculos pré-definidos, sem estabelecer uma relação com a caminhada ou com o destino final. Guatarri afirma que “o ser humano contemporâneo é fundamentalmente desterritorializado” e questiona se os homens podem reestabelecer relações intimas e subjetivas com suas terras natais. Sophie Calle, por sua vez, é uma antiturista, uma errante dentro de sua própria cidade ou de qualquer cidade que ela se propõe a conhecer, buscando essa relação íntima do ser com sua terra natal e buscando sua própria relação com sua própria terra.
“Room With a View” (2002) relaciona-se intimamente com o turismo. No dia 5 de Outubro, ela tem um quarto arrumado para ela no topo da torre, onde ela poderá dormir. Ao longo da noite, transeuntes vão ao seu quarto e lhe contam histórias, a seu pedido. Nesse processo, Sophie inverte a relação do turista com o ponto turístico: enquanto ela dorme em um ponto tão público da cidade, tornando-o um pouco particular, ela escuta histórias de turistas, que fazem viagens para contar histórias. A artista estar no ponto símbolo da cidade ouvindo histórias dos turistas cria uma relação de uma cidade querendo conhecer o turista, diferenciando-se do contrário tradicional, enquanto Sophie desenvolve sua relação própria e particular com um dos pontos mais públicos da cidade de Paris.
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| Room With a View, 2002 |










